3 de junho de 2025

AS MELHORES DE 2025 (ATÉ ENTÃO)

By In Petalhada

texto Arthur Stering
publicado 03.06.2025

Primeiro semestre se encerrando, então é hora de revisitar o que rolou de bom até aqui. Num 2025 que, por ora, já dá pra considerar recheado de ótimos lançamentos musicais e portanto merece seus destaques.
Como não sou nenhum gatekeeper, vou compartilhar minhas queridinhas aqui e espero que você goste.

Bad Bunny – DtMF
DeBÍ TiRAR MáS FOToS

Não tem jeito, é o grande hino de 2025 até agora. Evoca uma nostalgia, ao mesmo tempo que me propôs uma reflexão sobre como eu venho vivendo e o que vai ser do meu futuro.
Pra quem já acompanha o trabalho do Benito há um tempo, realmente dá pra ver que tem algo de especial nesse disco. Seja pela busca de sonoridades mais profundas da música porto-riquenha ou até pelo conceito mais coeso e de protesto, a evolução e o amadurecimento são nítidos em ‘DeBÍ TiRAR MáS FOToS’.

BaianaSystem – Porta-Retrato da Família Brasileira (part. Dino d’Santiago, Kalaf Epalanga)
O Mundo Dá Voltas

Pouco se falou sobre essa faixa. Talvez pelo timing dos últimos trabalhos do BaianaSystem coincidir com o período de Carnaval, uma música com uma cadência um pouco mais desacelerada e sem um refrão tão grudento como ‘Balacobaco’, que é do mesmo projeto, acaba perdendo bastante a chance de ser contemplada por muita gente.
É bem densa na poesia, remetendo a alguma pintura de Cândido Portinari, apesar do arranjo bem suave de afrobeats que acaba contrastando e levando à êxtase.

Mac Miller – Rick’s Piano
Balloonerism

Apesar de não ser de um disco póstumo propriamente dito, já que havia sido concebido com o Malcom ainda em vida, só foi lançado agora em 2025.
Minha relação com a figura do Mac Miller vai além da música. Costumo dizer que ele é meu melhor amigo imaginário, se é que isso parece fazer algum sentido. Não sei explicar, mas sempre tive uma afeição gigantesca por ele. Aquela partida precoce mexeu muito comigo.
Mas enfim, falando sobre a faixa: samples de piano, bateria arrastada, e uma guitarra maneirinha de fundo. A abordagem com que ele conduz a fala, às vezes parecendo despretensiosa e bem humorada, traz as constantes pautas sobre crises existenciais, devaneios sobre a morte e muitas outras incertezas.

Descanse em paz, Larry Fisherman.

BK – Abaixo das Nuvens (part. Borges, Luedji Luna, Dj Will)
Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer

Enquanto muitos duvidaram, ele veio com mais um disco muito sólido. Acho que foi pra se consagrar de vez, não somente como um cara gigantesco pro rap nacional, mas também um artista muito focado.
Em ‘Abaixo Das Nuvens’, Bikila vem rimando muito como sempre, mas o destaque vai pro Borges. Muito legal ver ele se desnudando liricamente e tratando de assuntos tão profundos. Mais legal ainda é escutar a Luedji com uma entrega tão diferente, explorando flows de uma letrista que parece muito familiarizada com o rap. Menção honrosa aos scratches de Dj Will, que comunicam bastante com a faixa.

Drake – NOKIA
$ome $exy $ongs 4 U

É divertido. Danem-se vocês, haters malditos. Não tô nem aí.

Sam Fender – Chin Up
People Watching

Mais um trabalho muito maduro, sério e coeso. Sam Fender é muito conhecido no Reino Unido, e vem ganhando cada vez mais espaço, apesar de ainda ser considerado um artista do escopo indie. Ele faz um rock quase que “de arena”, com bastante inserção de cordas de orquestra, saxofone e outros elementos não tão minimalistas para quem ainda vive no rótulo do indie rock.

LPT Zlatan, Wall Hein – Olha o Gol
Nunca Tenha Medo

Apesar das comparações frequentes com os mesmos artistas de UK drill de sempre, vejo um frescor diferente vindo do LPT. Ele é a amálgama perfeita da identidade periférica de São Paulo com as referências europeias, que vêm tanto do culto ao futebol quanto na roupagem da produção que o Wall Hein traz à sonoridade desse projeto.

Boldy James, Chuck Strangers – UPS
Token Of Appreciation

Despretensioso não é sinônimo de feito de qualquer jeito. O projeto de Boldy James, rapper de Detroit que conta com a assinatura de Chuck Strangers nos instrumentais, é a prova de que não precisa de muito pra mandar bem. O flow arrastado do Boldy e as batidas minimalistas do Chuck formam um disco simples e bem feito.
Nessa faixa, a mesma fórmula em que consiste todo o disco é muito bem executada: um bom loop e rimas mais diretas.

Saba, No ID – Breakdown
From The Private Collection of Saba and No ID

Um dos meus favoritos até aqui. O No ID não faz música ruim, então desde que eu soube da existência do projeto, confiei de olhos fechados que seria um bom disco. E, de fato, é gigante. Saba é um dos rappers mais técnicos e originais dessa nova geração e isso se reflete no projeto, até porque não seria qualquer a um fazer dupla com um produtor tão lendário.
‘Breakdown’ é uma faixa muito dinâmica, já que o No ID gosta de brincar com as samples e variações de bateria de uma forma que, apesar da estrutura ser bem definida, fica muito pouco repetitiva. E o Saba dá aulas de flow e métrica.

Bon Iver – Day One (feat. Dijon, Flock of Dimes)
SABLE, fABLE

Justin Vernon retorna com mais uma obra muito bonita e singela, porém sem repetir fórmula nenhuma, algo que considero um dos maiores méritos da discografia dele.
‘Day One’ me ganhou de cara pela participação do Dijon, um cara que eu sou muito fã, e nunca decepciona. Mas a maior surpresa foi a Flock of Dimes. Achei sensacional a abertura de vozes dela nessa faixa.

Terno Rei – Nenhuma Estrela
Nenhuma Estrela

Alguns singles não me agradaram tanto durante o pré-lançamento do disco, portanto minhas expectativas estavam baixas. Que bom saber que eu estava errado. Não chega a ser excepcional, mas cumpre o seu papel e é bem feito. Tem uma participação surpreendente do Lô Borges, bons riffs e composições.
A faixa-título é bem familiar pra quem já conhece a banda desde Violeta ou Gêmeos, com a estética que consolidou eles na cena do indie rock nacional.

Arnaldo Antunes – Sou Só (part. Marisa Monte)
Novo Mundo

Nesse disco você vai ouvir desde Arnaldo cantando numa base de drill com VANDAL até num pop animadinho e divertido com a Ana Frango Elétrico. Muito legal perceber esse entusiasmo e interesse por parte dele no que é produzido e consumido hoje em dia.
Sobre ‘Sou Só’, é mais um gostinho do que já foi o Tribalistas. Não tem muito o que falar, só agradecer a Deus.

Aminé – Vacay
13 Months Of Sunshine

O Aminé é um respiro em meio a tanta mesmice. É sempre bem-vindo no cenário ter um artista que se preocupa tanto em imprimir uma identidade sonora o mais original possível.
Aqui ele traz uma produção muito distinta, que se destaca pela integração de elementos da música eletrônica de um jeito muito inteligente. Quanto a abordagem, sempre descontraída e que já faz parte do imaginário do rapper, é só mais uma prova do quanto ele é diferente e agrega em cada lançamento.

Kali Uchis – Sugar! Honey! Love!
Sincerely,

A artista se reinventa em sua unidade musical com uma nova roupagem. Cadência mais lenta, arranjos um pouco mais minimalistas e com ambiência profunda num baita disco bem produzido. Lembra um pouco a vibe de alguns trabalhos da Lana del Rey, com o perdão da comparação. Achei que essa proposta combinou bastante com o estilo da Kali.

Duckwrth – Temporary Pleasures (feat. LaKeith Stanfield)
All American F⭐️ckBoy

Destaque pra esse cara aqui. Muito subestimado. Realmente estamos falando de um cara especial. Além de ter um dos discos mais bem produzidos dessa seleção, o projeto traz um conceito muito interessante e bem amarrado. Sou vidrado nesses discos com transições bem conectadas, interlúdios e coisas do tipo. Pra mim, mostra muito cuidado e minúcia com a concepção do trabalho. Enfim, acho que ele gabaritou.
Todos os timbres são muito originais e os arranjos muito criativos. A cereja do bolo é a narração ao longo das faixas e interlúdios feita pelo ilustre LaKeith Stanfield, ator que admiro muito.

Marina Sena – SENSEI
Coisas Naturais

A Marina Sena realmente mostrou que sabe fazer tudo que se propõe. O disco explora uma infinidade de gêneros e subgêneros musicais, e ela executa tudo com maestria.
Em ‘SENSEI’, acho que o que me cativou foi uma espécie de identificação, principalmente com a letra e produção etérea.

Spacey Jane – All the Noise
If That Makes Sense

Mais uma banda de indie rock, dessas que a gente descobre por acaso. Gostei muito do som e acho que mais pessoas deveriam prestar atenção neles.
‘All the Noise’ é um hit agitado, divertido e muito viciante. O ponto forte dela pra mim é o refrão, que funciona quase como um respiro ao frenesi dos versos.

PinkPantheress – Noises
Fancy That

Um dos maiores talentos do pop últimos anos — pessoalmente um dos meus favoritos — pelo menos entre quem vêm surgindo nos últimos tempos. Tem uma estética visual e sonora muito característica, e muita referência por trás. O resgate de gêneros de música eletrônica urbana original do Reino Unido é um traço forte da sonoridade da artista. Nesse trabalho, ela traz a mesma proposta Y2K de Heaven knows, com uma nova textura.

Ray Vaughn – DOLLAR menu
The Good The Bad The Dollar Menu

Ray Vaughn vem disputando para ser um dos grandes protagonistas do cenário do rap atual, após entrar no front da briga entre costa leste e oeste, inflamada por Joey Bada$$. Demonstra ser um letrista obstinado e habilidoso, e não é pra menos. Figurar entre o elenco da Top Dawg Entertainment não é pra qualquer um.
Nesse som, ele literalmente canta com voracidade, ao falar sobre a fome de uma maneira criativa e sagaz. É um soco no estômago, a verdade é essa.

Luedji Luna – Salty (part. Takuya Kuroda, TALI)
Um Mar Pra Cada Um,

Luedji Luna construiu um álbum abstrato, introspectivo, mas essencialmente muito lindo. Temas como família, amor e solidão são guias para conduzir a narrativa da obra. Hoje em dia, raros são os artistas que fazem uma soul music de qualidade tão alta quanto ela no Brasil.
O destaque de ‘Salty’ vai para a revelação TALI, filha de Deise Cipriano do Fat Family, que faz uma performance sensacional aqui, elevando a canção a um outro patamar.

Vanessa da Mata – Sobre as Coisa Mais Difíceis
Todas Elas

Mesmo depois de construir uma discografia consagrada, Vanessa da Mata continua demonstrando interesse em fazer algo novo. Toda a bagagem de uma carreira gigantesca se reflete em um disco muito seguro, no qual a cantora explora muitas facetas da música brasileira e latino-americana.
Falando ‘Sobre as Coisas Mais Difíceis’, a faixa me pegou demais. A melancolia que ela transpõe à canção é muito potente e chega a emocionar.

Ovrkast. – Small Talk (feat. Samara Cyn)
While The Iron Is Hot

Ovrkast. é um daqueles artistas que provavelmente estão fora do seu radar e deveriam ter mais atenção, além de ter facilmente um dos melhores álbuns de rap do ano nas mãos. Já deve ter ficado nítido que eu levo o critério originalidade em consideração, e ele não fica devendo em nada.
Em ‘Small Talk’, o rapper e produtor californiano se junta com Samara Cyn, mais uma revelação do cenário feminino dos últimos tempos, que inclusive acabou roubando a cena. O instrumental, feito pelo próprio Ovrkast., possui uma sample muito marcante e um timbre de 808 que eu nunca ouvi antes. Fiquei de cara mesmo. Bravo!

Kyan, Mu540 – Mente Pensante – Bonus Track (part. KayBlack)
DOIS Quebrada Inteligente

Essa dupla dinâmica sempre funciona. Dá pra considerar inventivo o que eles fazem. Fico fascinado como o Mu540 consegue emular qualquer textura de funks distorcidos e equalizados de maneira muito consciente em sua mixagem e produção, que combina cem por cento com a forma que o Kyan rima.
‘Mente Pensante’ traz Kyan e KayBlack rimando num drum n’ bass. É isso. Sem mais palavras.

Erika de Casier – Delusional
Lifetime

O som que Erika faz é uma das coisas mais relaxantes que eu já ouvi. Ela consegue retratar uma atmosfera etérea muito única, de uma forma que eu nunca vi antes e dificilmente pode ser replicada. Voz suave e bastante reverb marcam a sonoridade de Lifetime.
O mais interessante de ‘Delusional’, para além da ambiência, é a sample icônica de ‘Insane In The Brain‘ do Cypress Hill, que inicialmente pode causar estranheza, mas funciona muito.

WIU – Drive-In
808 Club: AFTER

O multitalentoso WIU demonstra nessa mixtape que é um dos mais promissores nomes do trap nacional, e por ser um cara fora do eixo Rio-São Paulo, reconheço um mérito maior ainda nessa posição que ele ocupa. Produz, escreve e mixa grande parte das próprias faixas, sempre com um jeito bem pouco genérico de se expressar — ponto de escassez na cena atual.
Em ‘Drive In’, a batida produzida pelo artista cearense, que tem uma cadência diferente, é acompanhada por versos que retratam o estilo de vida peculiar da vida de Vinicius.

Q – be brave
10 songs

Mais um trabalho excelente com pouquíssima visibilidade. Principalmente pra quem gosta de R&B e neo-soul, 10 songs é um prato cheio. O disco tem sonoridade única, e o que me pega nele é essa textura mais crua, até meio lo-fi.
Em ‘be brave’, que fecha o disco, existem algumas características que me ganham muito. Gosto muito de melodias principais sendo feitas no baixo, e a pegada meio “pra baixo” dela me é muito familiar.

Playboi Carti – LIKE WEEZY
MUSIC

Beleza, todo mundo sabia que ‘MUSIC’ seria um dos lançamentos mais superestimados de 2025 muito antes dele sair. Mas tem umas coisinhas interessantes ali, vai. Essa música, por exemplo. Impossível ficar triste ouvindo isso aí. Eu me divirto demais.

Kacy Hill – Please Don’t Cry
(Single)

Kacy Hill é uma das minhas cantoras favoritas, e fiquei muito feliz com esse lançamento. Nunca imaginei que houvesse uma identificação tão forte dela com a música country, e acho que se ela seguir por esse caminho vai dar muito certo.
Nessa canção, a artista evoca o bucolismo que a sonoridade induz e traz uma abordagem bem melancólica, como o próprio nome já sugere.

Fontaines D.C. – It’s Amazing To Be Young
Romance (Deluxe Edition)

A banda irlandesa é um dos maiores fenômenos recentes do indie rock, e esse último trabalho justifica o status. Eles fazem um som honesto e com personalidade, e merecem o momento de ascensão atual.
‘It’s Amazing To Be Young’ é uma espécie de “hino coming of age“, mas pra mim não soa piegas. Os vocais de Grian Chatten vêm carregados de emoção e originalidade, e o instrumental é guiado por um riff bem marcante.

Papatinho – PASSE A RESPEITAR (part. Naldo Benny, Fernanda Abreu, BK’, DJ Chernobyl)
MPC (Música Popular Carioca)

Muito maneira a referência que o Papatinho fez aos bailes charme e o miami bass noventista do Rio de Janeiro, buscando inclusive conexões diretas com percursores do movimento, como Mc Marcinho e Furacão 2000, através de samples e participações propriamente ditas.
Essa música é inacreditável. Surpreendentemente é uma das minhas favoritas de toda a seleção. A combinação pode não parecer, mas faz total sentido. Juntar Fernanda Abreu, ícone musical e figura quase folclórica da identidade carioca; Naldo Benny, grande expoente do funk melódico que marcou muito uma geração; BK, que sustenta qualquer colaboração em rap; e por último, mas não menos importante, Papatinho orquestrando tudo com o padrão de qualidade costumeiro.

Ficou faltando muita coisa, e sempre vai faltar. Queria citar mais gente aqui, mas fica pra uma outra oportunidade.
Ademais, ouça os discos, acompanhe os artistas, e ouça música nova sempre. Faz bem pra a rotina, mas também pra sair dela.
Pra facilitar, fiz essa playlist sem ordem, caso você queira ouvir aleatoriamente e escolher algo do seu agrado. Espero que tenha valido a pena chegar até aqui. Abraço!

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