10 de junho de 2025

pra onde a gente vai?

By In Petalhada

texto Gabriel Jones
publicado 10.06.2025

Recentemente abri meus armários velhos em busca de alguma coisa que fosse magicamente nova. Na busca por algo que perdi em algum momento e, por certo, ainda devo estar buscando, mas nem me lembro mais. Talvez eu tenha achado!

Achei cadernos que não entendo a letra, anotações que não tenho contexto, medalhas que não faço ideia porque ganhei e DVDs que não rodam mais em lugar nenhum…

Refleti que tudo aquilo que um dia guardei naquele armário, seja pensando no futuro ou porque não tinha lugar melhor, é como alguém que faz uma tatuagem na juventude e esquece o significado quando fica velho. É uma promessa de guardar alguém que você já foi, mas esqueceu como era ser. Um registro físico imune à caduquice da cabeça. Uma mala boa de carregar…

Sempre que revejo minhas tatuagens lembro de mais alguma coisa que passou batida da primeira vez ou finalmente entendo algo que parecia demais. Lembro das minhas promessas, como não entrar para estatística de fuga de cérebros ou só ouvir música brasileira para valorizar a cultura nacional, e acho graça das preocupações de alguém de 11 anos. Lembro da minha felicidade toda vez que passava pelo mesmo vendedor de DVD pirata na Boca do Rio e penso se ele tinha noção de como eu amava aqueles DVDs marcados com caneta permanente. Lembro do meu plano de criança de me matar no meu aniversário de 100 anos, porque parecia um número agradável, ou de toda vez que senti que tinha algum erro na minha cabeça que me deixava menos humano e me maltrata não poder contar pra aquela criança que tá tudo bem.

Um dia, quando era pequeno, perguntei para o meu pai desde quando ele era ele. Eu queria saber há quanto tempo tinha sido sua última “grande mudança”. Seu modo de refletir sobre o mundo e personalidade não foram sempre iguais e eu sabia disso. Sabia que cada evento que passa por nós rasgando a carne e nos deixando cicatrizes nos moldam. Hoje já não sou o mesmo de 2 anos atrás e sei que em algum tempo não serei o mesmo que sou hoje. É por isso que gosto tanto de abrir armários velhos e achar pequenas peças minhas que pensei ter deixado pra trás e redescobrir para onde a gente vai depois que muda.

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